irmãos praguinha
terça-feira, dezembro 16, 2008
  Moema quer Lula de novo em 2010 (pra não perder o mau humor)
Tenho parentes muito queridos em Moema. Se pudesse, levaria todos para outro bairro. Entrei num pet shop para comprar ração para minha gata, que mora em Moema provisoriamente, mas ainda não aprendeu a detestar o Lula. Quando encostei no balcão para pagar, o proprietário aproveitou o gancho de um assunto qualquer que rolava na loja para disparar o primeiro petardo:

- Também, com esse presidente que nós temos.

Não lembro mesmo qual era o assunto, mas não tenho a menor sombra de dúvida de que tinha nada a ver com o presidente. Aposto que ele encanou com minha barba e roupa largada de sábado à tarde, achou que eu tinha cara de petista e quis provocar. Aceitei de pronto.

- Que presidente?
- O presidente da República, o sujeito esclareceu, como se precisasse.
- E o que o presidente tem a ver com isso?
- Olha o exemplo que ele dá para as crianças desse país, de que não é preciso estudar.

É o tipo de comentário racista e óbvio que costuma me dar preguiça, porque na hora você vê que está diante de um interlocutor com poucos neurônios, ou morrendo de preguiça de usá-los, e nenhuma consistência política, que não merece um minuto da sua atenção, nem da sua saliva. Mas acontece que eu acabo de voltar pra São Paulo, e como estava desacostumado com esse ranço irracional, ando me emputecendo. Mas sem perder a classe, seguindo, diga-se de passagem, o exemplo de nosso presidente.

- Meu senhor, eu vejo exatamente o contrário. Se temos um presidente que não tem diploma, isso pode ser o exemplo de como uma pessoa que não teve essa oportunidade pode vencer na vida.

Aí o cara faz cara de cu e joga na mesa outra carta do seu baralho de preconceitos – achando que é o as de paus, mas sem saber que tenho o coringa.

- Mas olha as coisas que ele fala, pedindo que as pessoas comprem carros pra economia do país não quebrar. Quando era metalúrgico, os discursos eram bem diferentes.
- Mas meu senhor, ainda bem que ele mudou o discurso. Já pensou o caos que seria se tivéssemos um presidente falando como se fosse metalúrgico? Ademais, lembre-se que o antecessor dele, portador de tantos diplomas, também mudou o discurso quando chegou lá.
- É mesmo, mandou esquecer o que tinha escrito...

Ouvi mais um ou dois impropérios, respondi com argumentos sólidos e cheguei a pensar que o cara ia pedir que eu me retirasse sem me vender a ração – o que seria mais irritante que qualquer bobagem por ele pronunciada, pois já eram mais de 6 da tarde e não haveria outra loja aberta. No final, esticou a mão e desejou “um bom fim de semana, senhor Julio”.

A gata será devidamente alimentada até que eu a leve para um ambiente mais sadio, onde os jornaleiros não escondam a Carta Capital porque sabem que as pessoas só compram a Veja. Juro, é verdade. Eu frequento Moema e sei disso. Saber que as pessoas são viciadas numa revista que explora as tragédias pessoais de Fábio Assunção e Marcelo Leite, para citar só os exemplos mais recentes, explica muita coisa.

Eu já votei em tucanos, tucanos de boa cepa nos quais continuaria votando se fossem vivos. A questão aqui não é de foro ideológico nem partidário, é quase um problema de direitos humanos e democracia. Desrespeitar o presidente que cada dia mais é uma preferência nacional é como se esforçar para ser cego, para virar personagem de Saramago. Não digo que todos têm que gostar dele, mas é preciso abrir os olhos, aprender a detectar as mentiras que se lê, ampliar as fontes de informação para saber o que se passa no país. Ignorar que 70% da população acha Lula legal é debochar da democracia. Vão dizer o quê? Que o povo é ignorante e só gosta dele por causa do Bolsa Família? Então vale mais a opinião da Folha de S. Paulo que da população? A classe média de São Paulo, em especial, e dos grandes centros urbanos de maneira geral precisa parar de olhar para o próprio umbigo.

Fique claro que eu passei boa parte da infância e adolescência em Moema, onde vivi momentos ótimos. Acontece que na época eu não ligava para política. E fique claro também que essa história poderia ter se passado na Vilompa, Itaim, Jardim Europa e, verdade seja dita, até Pinheiros. Calhou de ser em Moema.

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o mais velho vive em brasília, o caçula em são paulo. um é jornalista, o outro acadêmico. um trabalha no governo lula, o outro pro kassab. eles se dão bem, mas geralmente discordam no que se refere a política, fenômeno seriamente agravado pela experiência de lula na presidência. daí a idéia de criar um espaço para promover este debate. histórias curiosas do dia-a-dia e outros temas tb entram, afinal, ninguém merece...

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