irmãos praguinha
quinta-feira, maio 05, 2011
  Elogio à Vida em “A Minha Versão para o Amor”
Estreia nesta sexta-feira o filme “A Minha Versão para o Amor”, tradução de “Barney’s Version”, estrelado por Paul Giamatti. Ao contrário do que geralmente ocorre, a tradução expressa de forma fidedigna a essência da história de Barney Panofsky.
De família judaica, Barney é o típico homem que busca realizar seus sonhos e ser feliz, tanto na vida profissional, como na sua vida amorosa. E o foco do filme é, principalmente, nos amores do protagonista. Ou, melhor dizendo, nos três casamentos, na medida em que dois não foram motivados propriamente pelo amor.
Além de mostrar o amor incondicional que Barney sente pela sua terceira esposa, a história mostra o jeito leal e mavioso com que ele se relaciona com os amigos, os filhos e o pai, interpretado por Dustin Hoffman. Aliás, a relação próxima e confidente entre pai e filho é um dos pontos altos do filme. Enquanto acompanhamos o desenrolar da vida de Barney, nos divertimos com suas histórias inusitadas, suas provocações e as caras e o jeito inigualáveis de Paul Giamatti, que está magistral no filme. Giamatti já fez grandes atuações em filmes como “O Anti-herói Americano” e “Sideways” e acaba de ser agraciado com o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia. Certamente será lembrado pela Academia para o Oscar.
Até aqui, nada de incomum ou singular no filme. Então, o que chama a atenção nele e o diferencia de outras histórias de amor? Certamente, a resposta está no próprio Barney. Ele é o típico politicamente incorreto ou, nas palavras de sua segundo esposa, um judeu que não é careta, quadrado como os outros. E isso faz toda a diferença num mundo careta como o nosso atual, em que há uma espécie de ditadura do bom moço, com padrões de comportamento, beleza e saúde determinados socialmente e que discrimina aqueles que não fazem parte dele.
Dessa forma, hoje não “pega bem” fumar (seja lá o que for), beber, não fazer esporte e ficar acima do peso, não manter uma dieta saudável, não seguir um certo padrão estético na moda e mais uma série de coisas que não caberiam aqui por falta de espaço. Para além desses comportamentos ditados pela moda do momento, há, ao longo de nossa civilização, um movimento no sentido de reprimir nossos sentimentos e impulsos, deixando de externá-los e limitando-se a dizer e fazer aquilo que se tornou o senso comum. Se olharmos para a história, veremos que passamos, ao longo dos últimos séculos, de uma sociedade em que as opiniões e paixões eram importantes e deviam ser expressas livremente, o que levava, inclusive, a conflitos armados, para uma sociedade mais cerimoniosa, em que a observância de certos ritos, regras e padrões de condutas é não apenas exigida, mas necessária para a convivência.
Daí resultam, em certa medida, nosso comportamento previsível e burocrático, nossa falta de criatividade e nossa intolerância a ideias e atitudes diferentes das nossas. Norbert Elias, sociólogo alemão, cita um escritor conterrâneo que critica o comportamento inglês em oposição ao alemão, dizendo que aquele povo, afeito às cerimônias e protocolos e sempre prontos a conter seus verdadeiros sentimentos, representa, enquanto os alemães, mais autênticos e verdadeiros, vivem efetivamente.
E é justamente para nos lembrar de sermos autênticos e termos a coragem necessária de seguirmos nossos desejos que o filme nos conta a história da vida de Barney. Indiferente aos imperativos morais reinantes, Barney tem personalidade forte e segue seus instintos, sendo autêntico em todas as suas ações. Desde o começo o personagem aparece fumando seu charuto e tomando seu uísque (ele toma vários porres, diga-se de passagem), não parece se importar com bom físico ou boa imagem e busca com afinco e determinação seus objetivos. É assim que ele se casa com uma mulher desequilibrada na Itália, depois vai ao Canadá, onde se passa o filme, e se casa novamente, agora com uma judia filha de pais ricos, e por fim, é capaz de se apaixonar por aquela que seria sua terceira esposa durante seu próprio segundo casamento.
Desde o início do filme, podemos ver um Barney já velho, doente e só. Mas o importante é que, ao longo de toda a sua vida, acompanhamos um homem que viveu intensamente, teve coragem de ir atrás de seus sonhos e buscou realizar seus desejos. A cada momento único na rotina com sua última esposa, o amor de sua vida, a cada conselho recebido pelo pai e a cada conversa íntima com os amigos, enquanto tomam umas e outras, Barney se revela uma pessoa amorosa, intensa, dura, inconsequente, por vezes, mas sempre cheia de vida. Repito aqui uma frase que li em algum lugar que diz muito sobre sua vida e que acredito que todos gostariam de tê-la em seu epíteto: enquanto esteve vivo, viveu (e amou, eu acrescentaria).
 
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o mais velho vive em brasília, o caçula em são paulo. um é jornalista, o outro acadêmico. um trabalha no governo lula, o outro pro kassab. eles se dão bem, mas geralmente discordam no que se refere a política, fenômeno seriamente agravado pela experiência de lula na presidência. daí a idéia de criar um espaço para promover este debate. histórias curiosas do dia-a-dia e outros temas tb entram, afinal, ninguém merece...

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